quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Livro Ficcionais - Segredos da escrita


Em Ficcionais (livro), escritores contam, em primeira pessoa, aspectos curiosos do processo criativo de um livro.

Saber o que acontece a alguém durante o processo de escrita de um livro, descobrir que aquela história é, em certa medida, a história de seu autor, ou de um amigo, ou do pai, e que o escritor quase abandonou o livro porque teve um bloqueio criativo são questões que não deveriam mudar a relação que se cria com a obra - mas que despertam a curiosidade do leitor. Nenhuma orelha ou quarta capa de livro explica isso, ou de onde veio a ideia para aquela história, o que pretendia o autor ao escrevê-la e, principalmente, o que leva alguém a mergulhar fundo no projeto de um livro já que o processo é tão doloroso. Entrevistas dão algumas pistas, mas é por meio dos raros relatos de um autor que chegamos, se chegamos, mais perto de sua verdade.

Em Ficcionais - Escritores Revelam o Ato de Forjar Seus Mundos (Cepe, 120 págs., R$ 15), esse universo desconhecido da escrita, da relação do autor com seu objeto é, em parte, revelado. Estão ali textos em primeira pessoa de escritores diversos, de idades variadas, como Bernardo Carvalho, Ana Maria Machado, Daniel Galera, Michel Laub, Elvira Vigna, Ronaldo Correia de Brito, Marcelino Freire, que contam sobre o processo de escrita de um livro específico. São 32 textos no total, todos feitos a pedido de Schneider Carpeggiani, editor do Pernambuco, suplemento literário do Diário Oficial do Estado (antigo Suplemento Cultural), que completa agora cinco anos, e foram publicados na coluna Bastidores.

Foi Bernardo Carvalho quem, indiretamente, deu a ideia dessa coluna. Ele estava lançando O Filho da Mãe, da série Amores Expressos, e Carpeggiani pediu que ele relatasse o período que passou em São Petersburgo, para onde foi mandado com a incumbência de voltar com uma história de amor. "Mais que um relato sobre um livro feito em viagem, numa situação artificial, ele me enviou uma confissão de como aquela história foi criada. O texto é uma espécie de 3X4 do que é o Bernardo Carvalho criando", conta o editor e organizador da obra. A partir daí, ele resolveu investir nesse tipo de provocação.

Foram poucas as recusas desde a criação da coluna, há cerca de quatro anos. Mas a dúvida é unânime: como fazer isso? "Aí entra o trabalho de psicólogo que todo editor deve exercer. Teve um escritor que eu não posso revelar o nome que disse: 'Mas eu não posso escrever isso, porque eu sou o personagem. E ninguém pode saber, porque essa história é complicada'. Respondi: 'Se seu romance é 'real', então faça um texto ficcional dizendo como criou aquela ficção. Ninguém vai notar'. E ele fez. Ou seja, na cabeça dele, o texto de ficção de verdade é o texto da coluna Bastidores. Parece um jogo de espelhos de Borges", conta.

A ausência mais sentida no livro é de um texto de Moacyr Scliar publicado às vésperas de sua morte. "A família dele fez várias exigências para liberar o texto, entre elas que o livro só tivesse uma edição. Aí a gente deixou de fora, mas o texto é lindo." O último a dizer não à coluna foi Daniel Galera. O escritor, que acaba de lançar Barba Ensopada de Sangue, disse que já tinha falado muito sobre a obra. Ele, porém, está no livro com um texto sobre Cordilheira, seu romance que ganhou o Prêmio Machado de Assis.

Vencedor do Prêmio APCA - o último do ano a ser anunciado - de romance por O Céu dos Suicidas, Ricardo Lísias também contou sobre o que estava por trás de seu romance premiado. Abre seu texto dizendo que em 2008, quando terminava O Livro dos Mandarins, recebeu a notícia do suicídio de um amigo. "Nos primeiros meses depois do telefonema, racionalizei. Não pensei muito no assunto. (...) Quando voltei a escrever, depois do descanso que tiro entre cada livro, percebi que eu estava com um problema: eu só conseguia falar do meu amigo. (...) O assunto começou a me dominar. Lembro que não aceitava ninguém colocando qualquer problema em um suicida. Comecei a ficar muito nervoso e, como se não houvesse outra saída, planejei O Céu dos Suicidas", escreve Lísias.

Entre outros temas abordados, está a insegurança da mudança de estilo. A romancista Ana Maria Machado, autora também de uma vasta obra infantojuvenil, escreve sobre quando decidiu tirar seus poemas da pasta de cartolina e publicá-los em Sinais do Mar. Discutem também o tempo que dedicam à escrita, se sabem o final quando começam o livro, a busca da palavra exata.

Nos textos, estão as histórias que os autores resolveram confessar. Vale lembrar que são todos ficcionistas, contadores de histórias. Há muito mais atrás disso, em lugares que nem leitores e às vezes nem autores podem acessar

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,segredos-da-escrita-,987245,0.htm

Abraços
Thiago Rulius

domingo, 13 de janeiro de 2013

Palavra por palavra – Anne Lamott

    Durante o tempo que freqüentei, com alguma assiduidade, algumas comunidades de escritores do finado Orkut, encontrei gente de todos os níveis possíveis em relação a escrita: autores publicados por editoras comerciais de todo porte ou autopublicados, vencedores de concursos literários publicados ou não e amadores de diversos níveis.
    Infelizmente (ou talvez felizmente, não sei) eram muito comuns aqueles que acabaram de ler um livro que lhes arrebatou completamente, levando-os a decisão relâmpago de se enfronhar nesta fascinante carreira e se tornarem, quem sabe, o novo Paulo Coelho ou a nova J. K. Rowling. Nada contra sonhar e buscar este sucesso, afinal acreditar em seu potencial é o primeiro passo a ser dado. O problema é que grande parte destes candidatos a se tornarem o mais novo escritor best-seller sequer tem prática de leitura. Eles simplesmente descobriram a literatura tardiamente e já querem saltar para o “topo da pirâmide”.
    Grande parte desta turma vai tentar escrever um texto plagiado do seu autor preferido e em uma semana, ao ler o próprio texto, vai se desanimar e perceber que escrever um romance de sucesso não é tão simples assim.
    Para aqueles que decidiram perseverar, e continuam acreditando, mas não tem preparo algum para enfrentar este longo caminho, recomendo o livro Palavra por palavra, de Anne Lamott. Neste livro, Anne atua como professora, psicóloga e consultora, mostrando ao leitor e candidato a escritor como se manter motivado e confiante durante a produção de sua obra, como combater a autocrítica, resolver problemas do processo de escrita (como por exemplo ficar travado – o conhecido “bloqueio criativo”), além de dar dicas relacionadas a publicação e melhoria do texto. Ao mesmo tempo que incentiva o escritor (amador ou não), o livro mostra também a realidade da profissão.
    O livro vai também lhe permitir, de acordo com sua experiência, reconhecer dificuldades já vividas, situações estas exemplificadas pela autora, que também apresenta soluções para resolver estes problemas.
    Considero-o um ótimo livro, um dos que devem compor a “ala técnica” da biblioteca de quem quer seguir a carreira de escritor. Apesar disso, talvez seja um bom livro para riscar e fazer anotações. Tenho dó de fazer isso, mas este Palavra por palavra pede esta heresia, para poder funcionar melhor como um autêntico livro de cabeceira, pois ele entrega as dicas de maneira cadenciada. Não faz o tipo guia de referência rápida.
    Ainda assim, recomendo a todos.

Abraços,
Thiago Rulius.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Um pensamento para iniciarmos 2013...

Lendo o livro Mestres da Pintura no Brasil, de João Medeiros, encontrei a reprodução de uma frase, ou pensamento, do teólogo Huberto Rohden. Acho que se aplica muito bem a literatura, então reproduzo-a abaixo, para verem se também pensam assim:


O verdadeiro artista sempre sente uma espécie de vergonha, e está com vontade de pedir desculpa ao publico pela imperfeição da obra que produziu, porque sente que toda a produção é uma espécie de traição da realidade, que ele concebe intuitivamente, mas que não pôde dar a luz visivelmente.

Huberto Rohden – Teólogo catarinense


Quanto ao blog, devo aumentar as postagens com o fim das férias. Não deixem de acompanhar.

Abraços
Thiago Rulius