quarta-feira, 20 de junho de 2012

As três regras cósmicas da escrita

Descobri este excelente texto no blog Dicas de Roteiro. São boas dicas para colocar você, escritor, para produzir mais, e com confiança. Aproveitem. E se gostarem, posso recomendar um livro com um enfoque parecido com o texto abaixo: Palavra por palavra, de Anne Lamott.

Boa leitura!
Thiago Rulius


As três regras cósmicas da escrita
Autor: Dennis Palumbo

Como um escritor veterano e um psicoterapeuta licenciado especializado em questões de escritores, eu sei o suficiente para saber que não existem quaisquer regras quando se trata de escrever.

Exceto pelas seguintes, que eu modestamente chamo de as Três Regras Cósmicas da Escrita. Estou falando sério. Aprendam estas regras simples e, em seguida, queimem-nas em seus corações e mentes. Isso não pode machucar.

A Primeira Regra Cósmica: "Você é Suficiente".

Essa é uma indústria em crescimento: existem dezenas de palestras, livros de como-fazer e fitas de áudio prometendo lhe ensinar a escrever melhor, mais rápido, de modo mais comercial. E não há nada de errado com a maioria deles. Eu sei, eu mesmo ensino em alguns.

Porque, francamente, EXISTEM coisas que um escritor precisa aprender sobre o ofício, as tradições da narração de histórias e a realidade do mercado de trabalho. Mas para o escritor iniciante há um perigo oculto: ou seja, a crença de que se você selecionar as palestras certas, ler os livros certos ou escolher o guru certo, então você será bem sucedido. Que a pessoa que você é neste momento simplesmente não é suficiente.

Esse é um sistema de crenças clássico… escritores que acham que têm de ser algo a mais para terem sucesso – mais inteligentes, melhor educados, mais engraçados – com vidas mais interessantes, mais experiências únicas. Mais alguma coisa.

Como um terapeuta que trabalha com escritores, eu vejo isto todo dia. Escritores que sentem que, de alguma forma, não são o suficiente. Que acreditam que TODOS os outros escritores são mais talentosos, mais confiantes, menos castigados pela dúvida.

Isso me lembra aquela famosa sequência de abertura do filme de Woody Allen, "Memórias". Um Woody sorumbático senta em um vagão de trem escuro e sujo, com outras almas perdidas. Olhando pela janela, ele vê um outro carro do comboio – reluzente e brilhantemente iluminado. Dentro, homens e mulheres bonitos riem e bebem champanhe, uma visão festiva da superioridade e das regalias saídas de uma peça de Noel Coward. Woody se desespera. Por que ele não está no carro brilhante, com as pessoas brilhantes?

Certa vez, quando um escritor cliente meu fez referência a esta cena para explicar seus sentimentos, o que surgiu não foi apenas o seu senso de si próprio como inadequado, mas algo mais, mais insidioso e destrutivo. Ou seja, a ideia de que ele tinha recebido uma mão de cartas ruim – "Eu estou no carro errado" – por causa de defeitos intrínsecos em si mesmo. Se ele fosse um escritor melhor – mais inteligente, mais talentoso, o que for – ele estaria no carro certo. Aquelas pessoas felizes e brilhantes estavam no vagão de trem brilhante porque MERECIAM estar lá, enquanto ele não.

Posteriormente, em nosso trabalho juntos, seus comportamentos auto-sabotadores puderam ser entendidos como um resultado natural de sua crença em si mesmo como basicamente defeituoso. Quando este doloroso auto-conceito foi iluminado e desafiado com sucesso, as coisas começaram a mudar em sua visão de si mesmo.

O que este episódio ilustra é o perigo real para a sua escrita em ver a si mesmo como inferior, não suficiente. Reconhecidamente, uma crença auto-limitante muito comum. Para a qual eu ofereço esse pensamento, que vai lhe economizar milhares de dólares em contas de terapia e cortar fora anos de sua jornada espiritual: todo mundo acha que a festa está acontecendo em algum outro lugar.

Mas não está. Está acontecendo bem aqui, agora. Com você.

Você – com todas as suas dúvidas e medos, alegrias e tristezas – é suficiente. Você – que está lendo estas palavras neste mesmo instante – tem tudo o que precisa para se tornar o escritor que deseja ser.

"Eu?", você pode estar perguntando. "Assim como eu sou?"

Sim, você, que pode, neste momento, estar se sentindo assustado, frustrado, bloqueado, desencorajado. Se este é o caso, junte-se ao clube. Porque assim sentem-se todos os outros escritores do mundo, mesmo os mais bem sucedidos, que, afinal de contas, já foram escritores batalhadores um dia.

E agora que são bem sucedidos, adivinhe? Eles ainda lutam. Eles têm as mesmas dúvidas, medos, anseios, preocupações. Eles simplesmente não dão a estes sentimentos os mesmos significados negativos que você dá. Escritores inteligentes reconhecem seus sentimentos como informações importantes sobre sua vida interior, como a matéria-prima do seu ofício de escrita. Apenas lenha para a fogueira.

O que me traz à Segunda Regra Cósmica da Escrita: "Trabalhe Com o Que Lhe é Dado".

Uma das minhas tirinhas favoritas da New Yorker, feita por George Booth, retrata um escritor atormentado, obviamente "bloqueado", sentado em frente à sua máquina de escrever, papéis amassados espalhados, rodeado por literalmente dezenas de cães – cochilando, latindo, pendurados nos parapeitos das janelas etc. A esposa do escritor está em pé junto à porta, encarando ele com fatigado desdém. "Escreva sobre cães", diz ela.

À parte o seu humor negro, a verdade da tirinha é que o escritor frustrado frequentemente não vê que um assunto para a sua escrita está bem na frente dele – os cães; ou seja, os elementos óbvios que de fato habitam sua vida.

Em outras palavras, trabalhe com o que lhe é dado. Os escritores têm de praticar VER, realmente ver o mundo ao seu redor. Como escritor, o seu trabalho é fazer isso consciente e artisticamente, usando a habilidade e a imaginação, assim como a memória e a reflexão. Você tem que prestar atenção.

Tolstói disse: "Ame aqueles que Deus colocou diante de ti"; o Tao diz: "Ame as Dez Mil Coisas". Em resumo, ame, ou seja – veja – tudo.

O que quero dizer com isso? "Amar" a totalidade do que vivenciamos é aceitar todas as nossas reações a isso, ser inspirado pela variedade de modos que vivenciamos os eventos, bons ou ruins, dolorosos ou alegres. A tarefa do artista é ver cada momento – e nossa reação a ele – como potencialmente interessante, desafiador e digno de nossa participação criativa.

Visto desta perspectiva, um escritor nunca estará entediado, nunca ansiará que as coisas em sua vida sejam mais emocionantes, mais interessantes, mais qualquer outra coisa do que realmente são. Exceto, é claro, quando você REALMENTE se sente assim; neste caso, você deve escrever sobre este tédio ou esta ânsia. Essa é a sua munição para esse dia em especial. É trabalhar com aquilo que lhe foi dado.

O que me leva à Terceira (e, felizmente, última) Regra Cósmica da Escrita… ou seja, "Escrever Gera Escrita".

Se você está empacado em uma cena difícil, escreva-a de qualquer jeito.

Escreva-a mal. Escreva-a em verso. Escreva-a como um registro de diário, um discurso Dennis Miller. Se você está frustrado por estar empacado, escreva sobre isso. Eu não ligo. Mas escreva.

Se você tem raiva, sentimentos de auto-crítica, os dê a um personagem da sua história. Se não houver um candidato provável, invente um. Há UM, de qualquer maneira: você. Suas angústias, dúvidas, medos e frustrações são tão vitais e elementares para o que você está escrevendo quanto qualquer personagem ou ponto de virada da trama. Poderia muito bem fazer uso deste fato.

Escrever gera escrita. Assim como preocupar-se gera preocupação. Obcecar-se gera mais obsessão. Andar para frente e para trás gera – bem, você captou a ideia.

Quando você se arrisca a escrever de onde você está, você põe em marcha todo um conjunto de processos internos. A primeira frase podre que você escreve tem uma vida que você pode habitar, avaliar, anular. Esta primeira tentativa pode ser substituída por uma segunda frase, com sorte menos podre – talvez um bom pedaço de descrição ou uma afiada linha de diálogo.

Ou talvez não. Mas isso não importa. Apenas continue em frente. Como William Goldman nos lembra, algumas cenas que você escreve serão apenas lodo, mas elas são importantes tecidos conjuntivos. Elas mantêm as coisas em movimento; são elos de uma cadeia. Elos fracos, talvez, mas você sempre pode voltar e fortalecê-los mais tarde.

Com o quê? O conhecimento de que você já escreveu, por exemplo, porque escrever não apenas gera escrita, isso também gera – e reforça – a realidade de que você pode escrever; aquelas páginas vão se acumular.

Olhe isto deste modo: Cada hora que você gasta escrevendo é uma hora que NÃO passou se preocupando com a sua escrita. Todo dia que você escreve é um dia que NÃO gastou sentado em uma cafeteria, reclamando de que não escreve nada.

Escrever gera escrita. Não escrever gera… bem… nenhuma escrita. Você faz a matemática.

Aí estão: as Três Regras Cósmicas da Escrita.
1) "Você é Suficiente".
2) "Trabalhe Com o Que Lhe é Dado".
3) "Escrever Gera Escrita."

As quais apontam todas para uma regra, na verdade. Escreva agora. Não espere. Escreva agora. E continue escrevendo.
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Fonte: http://dicasderoteiro.com/2011/05/16/as-tres-regras-cosmicas-da-escrita/
Tradução do texto: Valéria Olivetti

domingo, 17 de junho de 2012

Concursos literários - Sugestões de mudança


               Tenho participado com alguma regularidade de concursos literários, buscando uma forma de avaliação de meus trabalhos como escritor. É um método bastante impreciso, claro, já que se você não for um dos premiados nem receber uma menção honrosa, ficará sem qualquer feedback dos textos enviados. Exemplificando: Um concurso literário vai premiar e publicar três autores, e mais dois como menção honrosa. Este concurso teve mil inscrições. Se você ficar entre os cinco primeiros, parabéns! Além de receber uma avaliação, muito provavelmente imparcial e verdadeira de seu trabalho, ainda pode receber prêmio, ser publicado, receber uma placa, medalha ou certificado. Mas e se não foi um destes cinco autores? Aí, você não saberá sequer se ficou classificado em sexto ou ultimo lugar. Ou seja, a avaliação de seu original, as vezes valorizada como um prêmio, não vai ocorrer.

                Mas por que estou falando tudo isso? Porque acho que as regras para os concursos literários estão um tanto defasadas. Os editais dos concursos que participei aparentemente seguem um modelo padrão, que em minha opinião deveria sofrer algumas atualizações de forma a facilitar a vida dos participantes, dos organizadores, e muito importante, dar um basta em relação a geração indiscriminada e desnecessária de lixo.

                Utilizando ainda o exemplo citado acima: Em um edital padrão, são solicitadas três ou quatro vias do texto impresso com espaçamento (o que acho justo com quem vai ler), mas impresso em apenas uma face da folha. Por que não permitir a impressão nas duas faces da folha? Bastaria uma nova cláusula dizendo que, para aqueles que imprimissem nas duas faces, o papel deveria atender a uma gramatura mínima. Apenas esta medida poderia reduzir o gasto com papel a pouco mais da metade do consumo atual. Para o nosso exemplo, se considerarmos que se trata de um concurso de contos temos: mil trabalhos, impressos em quatro vias, com, digamos, quatro páginas cada conto: 1000 x 4 x 4 = 16.000 folhas! Achou muito? Então agora imagine se este concurso fosse para romances com cento e cinquenta páginas: 1000 x 4 x 150 = 600.000 folhas! Não é um absurdo? Não seria genial se pudéssemos diminuir 30 ou 40% deste volume?

                Outra medida que me parece possível é deixar de imprimir uma cópia de cada texto por jurado. Afinal, eles não lêem todos os textos ao mesmo tempo. Por que não reduzir o numero de cópias a metade e reparti-las entre os jurados? Eles leriam os textos que estão em seu poder (poderiam rubricar a primeira página dos já lidos, para não criar confusão) e depois trocariam estes com os demais jurados. Teríamos então outra economia de 50% no numero de folhas impressas. Além disso, poderiam, junto a rubrica, dar uma nota, digamos, de um a cinco, e assim dar algum feedback aos escritores. Não entrando em contato com cada um, algo muito trabalhoso, mas talvez divulgando uma lista no site, abaixo dos vencedores. Acho que poderia ser uma possibilidade para pensar e amadurecer a idéia.

                Por ultimo, temos agora alguns concursos que pedem uma cópia dos trabalhos em CD junto ao envelope de inscrição. Esta me parece a mais descabida das medidas. Motivo: Se dos mil participantes, apenas cinco serão premiados, serão necessários apenas cinco dos mil CDs enviados a organização do concurso. Os demais novecentos e noventa e cinco CDs serão enviados diretamente para o lixo, sem nenhuma utilização. Cada um destes CDs pode levar até 450 anos para se deteriorar, segundo o site http://www.araraquara.sp.gov.br/Pagina/Default.aspx?IDPagina=2143. Não é terrível? Uma solução: solicitar o envio do texto somente aos vencedores, por email ou até por CD mesmo, afinal agora estamos falando apenas de cinco unidades. E adicionar a cláusula dizendo que, se o vencedor não enviar o conto em meio digital em determinado prazo, está desclassificado.

                Se tiverem novas idéias, por favor, comentem. E se concordam com as sugestões acima, que tal compartilhar? Se um único concurso aderir a estas mudanças, já terá valido a pena.

Abraços.
Thiago Rulius
               

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Confissões de um Peregrino – Juan Arias (entrevistando Paulo Coelho).

Outro dia, vasculhando as biografias de escritores brasileiros na biblioteca publica Luiz de Bessa, aqui em BH, vi um livro de entrevistas com o Paulo Coelho. Nada de mais, pensei. Afinal, não me considero fã do mago. O único livro dele que li foi o diário de um mago, isso há uns quinze anos atrás. Até gostei do livro, mas não a ponto de colocá-lo entre os meus favoritos.

Apesar disso, peguei o livro e decidi dar uma folheada. Não devido a qualidade do autor, ou a sua excentricidade, mas sim por outro motivo, que certamente desperta curiosidade em outros escritores: seu estrondoso sucesso comercial.

O livro todo é uma grande entrevista, sendo cada capítulo relacionado a um assunto: religião, política, leitores, escrita. Escrita. Por este capitulo, me decidi. Peguei o livro emprestado para aprender um pouco sobre o autor brasileiro mais traduzido de todos os tempos.

O que achei do livro? Passei a conhecer o ponto de vista do autor em vários assuntos abordados no livro, alguns sem a menor importância ou do tipo fofoca. O ultimo capitulo do livro, uma conversa entre Paulo Coelho, Juan Arias (o entrevistador) e algumas adolescentes não tem nada a ver com coisa nenhuma e não acrescenta nada, e o capitulo de escrita, que pensei tão promissor, teve apenas algumas boas perguntas.

Apesar disso, gostei de algumas respostas do autor, realmente construtivas, mesmo no capitulo chamado de "os sinais", com temas voltados a religião e a espiritualidade, assuntos que não costumo discutir ou dar muita bola. Mas uma resposta do mago disse muito do que penso e que vejo acontecer por aí. Está transcrita abaixo:

Pergunta: O que seria então para você um ateu?
Resposta: Para mim, o fato formal de crer ou não em Deus não muda nada. Conheço ateus que se comportam em sua vida mil vezes melhor que muitos que se dizem crentes. Porque às vezes o crente tem a tentação de se converter em juiz de seu próximo pelo fato de que acredita em Deus. Para mim, um ateu é o que manifesta Deus só através de suas obras. Como dizia Santiago, o apóstolo, o que nos permite reconhecer-nos como filhos de Deus são as obras, não nossa profissão de fé. "Mostra-me suas obras e eu te mostrarei tua fé", dizia.



Fonte: livro Confissões de um peregrino – Juan Arias (entrevistando Paulo Coelho).
Editora Objetiva


Então, voltando ao livro... É uma leitura que recomendo? Sim, se você não tem um bom livro em mente. Não é coisa do outro mundo, mas tem boas informações, apesar do papo seguir muito para o lado espiritual, que não agrada a qualquer um. Recomendaria especialmente para quem é fã do autor. Para os demais, podem existir outras opções mais promissoras.

Boa leitura!

Abraços.
Thiago Rulius

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Degustação de Contos - Luiz Vilela

Gosto muito dos contos do Luiz Vilela. Gosto tanto que um dia comentei com amigos que entre seu livro Contos Eróticos e o Felicidade Clandestina, da Clarisse Lispector, fico com o primeiro. Teve gente que se indignou, mas é o que penso. Além do mais, o Contos Eróticos é também um livro muito divertido, e uma aula para quem quer aperfeiçoar os diálogos de seus textos.

Para quem quiser conhecer, o site releituras tem um conto do autor que faz parte deste livro na íntegra, para degustação. Clique aqui para ler.

Se você pretende degustar mais algum conto deste livro diretamente nas livrarias, recomendo os contos Confissão e Depois da aula.

Abraços
Thiago Rulius