Finalmente
estou postando a cobertura do Fórum das Letras 2012. O evento mais uma vez foi
excelente, todos os quatro debates que participei foram de ótimo nível. Certamente
estarei de volta a Ouro Preto no evento de 2013. A cidade também ajuda muito,
com suas várias opções culturais rodeados de história, além de alguns bares e
restaurantes legais. Neste ano, nos dedicamos a visitar galerias de arte e
ateliês dos pintores locais quando não assistíamos aos debates. Voltamos para
casa com um quadro que é uma verdadeira obra de arte.
Ela
nem me conhece, mas parabéns a Guiomar por ter “desistido de desistir” do Fórum
das Letras deste ano. Correu tudo muito bem. Seria um fim de ano muito
melancólico para os mineiros terminar o ano apenas com a fraca bienal do livro,
que foi pouco mais que um grande mercado de livros encalhados. Vida longa ao
Fórum das Letras.
Abaixo
um resumo dos debates que participei.
23/11/2012
18h – Como Publicar o primeiro livro?
Participantes: Ana Maria Santeiro, Luisa Geisler,
Luize Valente, Olavo Romano de Sant´Anna
Mediação: André Luis Carvalho
Excelente debate. Luize Valente contou
como conseguiu lançar seu primeiro livro pela Record após chegar até eles na
cara e na coragem, como apenas uma sucinta carta (email) de apresentação.
Luiza Geisler contou sobre a
experiência de ter vencido por duas vezes o prêmio SESC de literatura, e como
ela jamais imaginava vencer este concorrido concurso quando participou da
primeira vez, com seu livro de contos Contos
de Mentira.
Olavo contou como conheceu um
editor casualmente, através de seu emprego a época, e ao mostrar alguns textos
de sua autoria abriu as portas para sua carreira de escritor.
E o principal: Ana Santeiro,
agente literária, mostrou um lado diferente, a visão que leitores e escritores
não têm muito contato e muitas vezes desconhecem. Contou como é o trabalho do
agente, a representação dos autores e tudo mais que este profissional ainda
pouco comum no mercado brasileiro faz.
Não por acaso, as perguntas do
publico foram direcionadas principalmente a agente Ana, que trouxe uma ótica
diferente ao debate.
Tive a oportunidade de bater um
papo com a Luize Valente ao fim do debate. Perguntei a ela se existiu, da parte
dela, algum trabalho de buscar uma leitura critica após a conclusão de seu
livro O Segredo do Oratório. Ela
disse que procurou leitores que considerava como qualificados, mas não uma
leitura critica contratada. Me disse para, a partir do momento que acreditar no
meu texto, buscar uma editora na cara e na coragem e ver sua aceitação. É o que
pretendo fazer no inicio do ano que vem.
19:30h – A produção de biografias
Participantes: Lucas Figueiredo, Paulo Markun,
Jorge Ferreira
Mediação: Mateus Pereira
Este debate, se não foi tão rico
em relação ao trabalho dos biógrafos, foi muito rico no aspecto histórico.
Todos os debates com o Lucas Figueiredo são certeza de muitos casos
interessantíssimos e muito enriquecedores. Foi a terceira vez que o vi falar e
ele mais uma vez não decepcionou. Seus parceiros de mesa Paulo Markun e Jorge
Ferreira souberam acompanhá-los com boa desenvoltura. Jorge Ferreira contou um
caso interessantíssimo de como conseguiu cartas de João Goulart com uma família
que viveu com ele no exílio, e Lucas Figueiredo contou sobre os bastidores curiosos
da vida do Marcos Valério.
Somente pelos preços não muito
atrativos (e pela fila de livros que tenho para ler em casa) não comprei lá a
biografia do João Goulart.
Para quem se interessa por
história, foi um bate-papo de primeira linha.
24/11/2012
16h – A trajetória do livro impresso e digital do
autor ao leitor
Participantes: Bernardo Ajzenberg, Sérgio França,
Thales Guaracy
Mediação: Guiomar de Grammont
Palestra
realizada no anexo do museu da inconfidência, local muito mais modesto e com
muito menos lugares que o bacana cine vila rica, o que fez com que o debate estivesse
lotado.
Foi
um ótimo bate-papo sobre o livro digital e as mudanças que trará (ou não) ao
mercado. Novamente o fato de editores estarem envolvidos no debate enriqueceu
muito o evento. A colocação da “visão da editora” sobre as mudanças do livro
digital ... Pontos como a chegada da Amazon.com, E-pub (formato de livro
digital), DRM (proteção contra pirataria de ebooks), Self-Publishing
(auto-publicação), também foram discutidas. Na real, não houve discussão sobre
trajetória nenhuma, o papo girou sempre relacionado a chegada do livro digital
e o que ele vai causar no mundo das editoras e no mercado.
Queria
ter perguntado a opinião de Sérgio França em relação ao DRM “light” usado pela
J. K. Rowling, autora da série Harry Potter, onde a única proteção para evitar
a distribuição de cópias piratas dos livros do bruxo é o nome e numero de
documento do comprador (que não vai querer deixar seus dados pessoais correndo
pela rede).
18h – Processos e rituais que o escritor usa para
criar
Participantes: Fernando Molica, Bernardo Ajzenberg,
Santiago Nazarian
Mediação: André Nigri
Debate
interessante sobre a forma de trabalho dos escritores envolvidos no debate: um
trabalha de porta fechada em silêncio absoluto, outro ouvindo som, de manhã ou
a noite, nem todos trabalham todos os dias (como sempre afirmam ser necessário
por aí), se todas as idéias são aproveitadas (claro que não), quanto tempo
levam para produzir (Santiago levou vinte dias para um e três anos para outro,
e disse que o livro escrito em vinte dias é o preferido do publico).
O
debate focou essencialmente nestas “curiosidades” que temos em relação ao
trabalho de escritores maduros, com vários livros publicados, em que acabamos
procurando semelhanças com o nosso próprio método de trabalho. Claro que isso
não vai dizer se um escritor amador que tem um processo parecido com um destes
escritores vai deslanchar. Muito mais importante que o método, é o texto
produzido. Mas pelo menos temos a possibilidade de saber que as coisas “erradas”
que fazemos, como negligenciar idéias ou ficar duas semanas sem pegar no texto,
também ocorrem com escritores publicados, o que pode ser um alívio, afinal, não
estamos indo tão mal assim.
O
outro autor convidado, Fabricio Carpinejar, passou mal e não compareceu. Uma
pena, já que ele é uma figura peculiar e deve ter processos de trabalho também exóticos.